11.3.11

Nietzsche miguxo

Certa ocasião, nos idos da minha adolescencia, visitando meu amigo Pedro, conversávamos em sua biblioteca. Recordo que o primeiro título que saltou nos meus olhos foi o Assim falava Zaratustra, do incompreendido Friedrich Nietzsche - já o conhecia como sendo aquele que proclamou a morte de Deus. É o típico autor que desperta devoção ou aversão: ame-o ou deixe-o.
Manifestei interesse de ler o que Zaratustra falava, mas a voz da sabedoria sentenciou: “esse livro não é para você”. Até então eu não sabia que os livros escolhiam seus leitores.
Fiquei com essa curiosidade aprisionada por mais de 10 anos. De fato, uma figura cuja personalidade ainda está em processo de formação não poderia tirar todo proveito desta obra.
Nietzsche colocou na boca do profeta Zaratustra toda sua energia intelectual para analisar o homem condenado à liberdade e vulnerável ao pensamento coletivo. Uma cabeça juvenil não abarcaria esses novos conceitos, posto que, além do autor refletir sua posição frente aos conflitos da sociedade, era a sua interioridade abalada por uma desilusão amorosa que estava à mostra.
Quem lê Nietzsche superficialmente ou encherga a figura de cristão ressentido ou de um apologista do ateísmo. Mas ele vai além disto. Sua presença é indispensável na discussão de toda essa contemporaneidade que nos rodeia, numa perspectiva que reforça a necessidade do pensamento crítico.
A razão da presente postagem é compartilhar um insight do velho Zaratustra. No tópico intitulado Do amor ao próximo, Nietzsche desconstroi toda educação cristã um dia recebida. Segundo este profeta do fim do mundo, devemos fugir do próximo e amar o remoto (já discorri sobre isso numa postagem em 24.09.2009 - clique aqui). Ou seja, o convívio com os homens estraga o caráter, sobretudo quando não se tem caráter. Zaratustra é uma metralhadora giratória a disparar idealizações do super-homem. Numa delas, ensina a amar o amigo (claro, desde que esteja longe!):
“Que o amigo seja para vós a festa da terra e o pressentimento do super-homem. Eu vos ensino o amigo e o seu coração transbordante. Mas é preciso ser uma esponja quando se quer ser amado por corações transbordantes(...). Meus irmãos, eu não vos aconselho o amor ao próximo, aconselho-vos o amor ao longínquo. Assim falava Zaratustra.”

Ler isso 10 anos atrás atrapalharia toda a construção do pensamento deste escriba. Contudo, ler Nietzsche no tempo presente me faz engrossar as fileiras que dão a ele o status de pensador pop, a ponto de ser citado por figuras tão distantes, como cantores de rock a ficção de escritores intelectualizados.


5 comentários:

  1. Pois bem, eu sou da turma do 'deixe-o', posto que não consegui vencer o tédio do primeiro capítulo de "o nascimento da tragédia" (fui bancar a fina, me lasquei).Eu tentei, não sei quando voltarei a tentar, mas um dia pretendo conseguir assimilar Nietzsche (até agora, pra mim, apenas uma pessoa de quem eu copio e colo o nome complicado).

    Puxando o saco do amigo distante

    Amigo, tu é MUITO ÓTIMO DEMAIS de prosa, sobretudo narrativas como esta. Quanta destreza com as palavras... deve ser coisa de quem lê(copiar/colar) Nietzsche!

    Abraços intermináveis!

    ResponderExcluir
  2. vem cá a Elane que tu sempre fala, por acaso é uma que segue meu blog, jacá,e que nos seguimos no twitter? da uma olhada lá e me diz... 'o mundo é pequeno pra caramba'

    ResponderExcluir
  3. Tentei ler um único livro deste indivíduo, Ecce Homo, mas abandonei-o porque achei-o deveras presunçoso e amostrado, nas poucas páginas que consegui ler desta obra, cheguei a conclusão de que ele SE ACHAVA, para ele, ELE ERA O BAM BAM, então larguei-o. E creio que nunca mais volto a ler qualquer obra dele, jamais terei intelecto suficiente para compreendê-lo, fico com os Harry Potter mesmo, kkkkkkkkk!!!!! Alessandro Lima.

    ResponderExcluir
  4. Olá! Obrigada pela visita... Seus blogs são muito interessantes, tbm! Parabéns!


    Voltarei mais vezes.


    =)

    ResponderExcluir
  5. Depois de algumas semanas sem visitar o seu blog, confesso com todo o pesar... rsrsrsr.Me deparo como essa grata surpresa: Friedrich Nietzsche refletido nessa síntese perfeita. Que na verdade queria eu te escrito dessa forma... Mas percebo que apesar da identificação que as obras dele suscitam nos seus leitores, poucos conseguem descrevê-lo com tanto senso despretensioso e ao mesmo tempo com profundidade. Parabéns... Abçs Cristina Almeia

    ResponderExcluir

algo a comentar?