6.5.10

"Eu só quero acabar com você"

Ouvir a pessoa amada dizer que num passado recente, enquanto perdurava a diáspora dos nossos afetos, em uma de suas raras alucinações etílicas, durante um show do Validuaté, às quedas, procurava ajudar o Quaresma e seus asseclas a entoar com toda força a cantiga: “partiu com aquela pessoa páia, partiu com uma pessoa mais feia do que eu (…) Eu só quero acabar com você...” é no mínimo enobrecedor e confortante. Sim, porque o que vale mesmo nessa hora é ser lembrado, mesmo que a lembrança venha acompanhado de um certo gosto de sangue na boca.

Ora, enquanto este mancebo vagava por outras plagas e paragens, percorrendo montanhas e mares, enquanto mergulhava esta cabeça loquaz e enfrentava feras em outras atmosferas, enquanto aprendia técnicas indígenas de relaxamento profundo através da ingestão do Santo Daime, um alguém do lado de cá do Rio Parnaíba se libertava de mim, e de si, saindo de um escuro e pesado casulo para gozar da leveza peculiar de uma borboleta.

Só há uma conclusão para isso tudo: Para curar uma paixão platônica só mesmo um porre homérico!

3 comentários:

  1. Lindo texto de um lindo poeta!! Foram "devaneios" regado a vinho na hora! Amo-te estraladamente.*

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  2. Nem o mais homérico dos porres, eu diria!rsrsrs

    "se libertava de mim, e de si, saindo de um escuro e pesado casulo para gozar da leveza peculiar de uma borboleta."

    Lendo com mais calma vejo força e leveza juntos, como pode? Lindo!

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  3. Não há maior inspiração no mundo do que as fatídicas dores cotovelísticas. Quando se sofre do coração e esse dito sofrimento resvala na curva do braço, somos capazes de nos comportar de forma imcompreensível e de produzir com mais ardor. É a febre do sofrer de amor.

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