A mensagem abaixo foi enviada por Frei Adolfo. A presente história fez parte do seu sermão na missa da páscoa. Ao fim, somos presentados por uma reflexão do franciscano.
A vela em cima do arado.
No tempo da semi-escravidão da velha Rússia, um conde dominava toda uma região que trabalhava para ele. Além da penúria os lavradores aguentavam todo tipo de humilhação. O cúmulo tinha chegado, quando o patrão zombador exigiu que trabalhassem no dia da Pascoa. Domingo bem cedo todo mundo teria que estar no ponto com seu cavalo e seu arado para aradar um campo imenso. Os lavradores resolveram matar o infame, e todos concordaram menos um. Petrusca falou: “Eu não participo deste pecado. Não temos direito sobre vida e morte. O que ficou para nós é a paciencia. Quem começa a usar violencia, vai perceber que o mal acorda nele. Eu por minha parte vou aradar o campo no dia da Ressurreição de Cristo, conforme a ordem. E Deus saberá de quem é o pecado.” Os outros ficaram indecisos, e no dia marcado todos estavam lá sem resistencia.
O conde passou a festa comendo do bom e do melhor. Depois do almoço chamou o capataz e perguntou: “Os lavradores estão achando ruim?” – “Sim”, disse o homem, “a revolta é grande. Eles dizem que vossa Excellencia não teme a Deus”. O conde deu uma gargalhada e falou: Isto me agrada.” Depois perguntou: “E Petrusca me xinga tambem?” O capataz hesitou antes de continuar: “O comportamento dele é muito estranho. Quando chegou, vinha cantando um salmo. O cavalo dele está enfeitado com fita no pescoço e flores na crina. Ele anda em roupa de festa. E o mais estranho é que afixou emcima do arado a vela da Páscoa que ganhou na Vigilia. O cavalo dele anda com tanto cuidado que a vela ainda não apagou. A chama não tremula com o vento e não se mexe nem na hora de virar o arado.” O conde ficou branco quando peguntou: “E o que foi que ele falou?” – “Ele disse para os companheiros que dele zombavam: “Paz na terra e aos homens todo bem”!
O conde caiu em profunda depressão, quando falou: “Ele me derrotou”. Obedecendo à sua esposa foi até o campo para liberar os homens, mas o seu cavalo desembestou com ele e o levou a uma morte fatal. Quando os lavradores viram o patrão morto, pegaram seus arados e foram para casa, assustados. Só Petrusca parou para fechar os olhos dele e levou o corpo no seu carro até o castelo.
Leo Tolstoi, tradução Adolfo Temme
A Ressurreição de Cristo inaugura o Reino de Deus que é da liberdade e da justiça.
O Reino da dominação se revolta contra a Páscoa: Quero ver quem manda!
Alí está “o duelo do forte contra o mais forte.”
O conde pensa que vai ganhar esta luta.
Ele usa as armas da zombaria e do deboche.
Os lavradores querem usar a arma da violencia que é da mesma logica.
Só Petrusca conhece os recursos da paciencia e do protesto calado.
Ele dá a vitória a Deus e não ao próprio punho.
A morte fatal é o sinal do céu que mostra o triunfo do mais forte.
O cavalo que desembesta é a ganancia do homem que não se controla.
Não tem cabresto para a cobiça dos grandes.
O testemunha da Ressurreição faz festa antes da hora.
Faz escuro, mas eu canto.
A nobre serenidade se transmite ao mundo em seu redor:
O cavalo colabora e o vento segura o sopro.
Petrusca não duvidou: dentro do cativeiro estou livre.
Teresina, Páscoa 2010
Frei Adolfo é frade franciscano e pregador de retiros em todo país. Veio da Alemanha para o Brasil na década de 70 espalhar a boa notícia do Reino em nosso meio. Possui um grupo de contemplação que se reúne todas as quintas, em seu eremitério, para aprofundar a Oração de Jesus.
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