27.2.10

Insônia

Caí na besteira de dormir a tarde toda e agora me encontro aqui sem sono. Enquanto espero ela ligar, procuro algo de futuro para fazer. Recorro ao acervo literário.
Peguei, primeiramente, uma seleção de poesias de Raïssa Maritain, abrindo no seguinte trecho:

“Ó paz noturna doce-amarga

Ó calma gloriosa que nos liberta e que nos prende

ao objeto sem-igual dos desejos infinitos”

Larguei imediatamente o livro, entendendo ser sacrilégio ler tamanha inspiração ao som de motos insones como eu.

Peguei depois O Espírito da Filosofia Medieval, de Etiene Gilson, e li:

“... não devemos procurar fora de Deus uma causa da existência de Deus”.

Recordo que foi justamente nesse capítulo que Thomas Merton teve seu intelecto tocado, convertendo-se, posteriormente, ao catolicismos e se tornando monge trapista.

Próximo!

Enquanto pegava Fernando Pessoa, uma enxurrada de mensagens de texto da Dalila. Juntando-as, deu isso:

“Sereno ele retorna do impossível

Traz no bico de prata

a rosa azul dos sonhos que tivemos

e nos pés de cristal a morna terra das estrelas

Branco e tranquilo e leve e livre e alegre

quase como morto já estivesse

o pássaro feliz esvoaça no meu seio

afugentando as sombras com seu canto”

Era isso que eu estava precisando: Mário Faustino, poeta-jornalista-tradutor-crítico literário teresinense.

Em todo mundo dos livros eu não encontraria nada semelhante a isso. Com essa dose letal de pura beleza vou para meu berço esplêndido, agradecendo ao pássaro místico e à sua emissária por ter afugentado a insônia com o seu canto.

Um comentário:

algo a comentar?