17.12.09

Como havia dito, e bendito na postagem abaixo, o tal mote foi desenvolvido, e o resultado é algo que beira a Nelson Rodrigues. Julgai vós mesmo!

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos. Prometeu a si mesmo nunca mais se exasperar numa discussão daquela magnitude, principalmente quando possuía razão, razão essa que tantas vezes fora reivindicada, a golpes de súplicas e lágrimas, por sua amante.

Ele, um catedrático de filosofia, com duas “fias” de 19 e 21 anos de idade e um casamento de aparências beirando as bodas de prata. Ela, 20 anos, aluna do 5º período e apaixonada por seu professor.

Enquanto caminhava em direção ao seu carro ia pensando na possibilidade de ela realmente estar grávida. Imaginou sua vida ordinária de ponta a cabeça com a chegada de um bebê. Uma febre repentina e uma angustia mortal havia se instalado nele desde o momento em que cessou seus argumentos, resolveu sair da frente daquela jovem banhada por lágrimas artificiais quando ela revelou que tudo não passava de uma conversa experimental, e que havia criado a história da barriga para ver sua reação. Mas única reação que teve foi a de bater a porta do apartamento, como que numa fuga, e desaparecer.

Ao entrar no carro, deu um longo suspiro, se viu protegido em sua redoma de toda aquela brincadeira de mau gosto. Lembou-se da paz gozada pelos estóicos da antiga Grécia e do aforismo célebre de Jean-Paul Sartre: “A pátria, a honra, a liberdade, nada existe: o universo gira em torno de um par de nádegas”.

Viu que a hora já estava avançada, mas mesmo assim resolveu voltar. Restabelecido, caminhou renitente ao encontro daquela paixão adolescente que não havia vivido nos tempos de outrora. Quando ela abriu a porta, ele, sentindo o frescor duma pele recém saída do banho, agarrou-a loucamente. Ria com os lábios fechados enquanto sentia cada palmo do seu corpo sendo aspirado selvagemente por aquele farejador. Atacava-o com mordidas sutis, como que se defendendo dos cálidos beijos que recebia nas regiões lascivas, até o momento em que descuidou da guarda e sentiu uma comoção alucinante imobilizar o seu centro de gravidade. Aquela sensação lhe deixou semi-inconsciente, mas ainda sim conseguiu esticar a mão e procurar às cegas a toalha que havia caído, meteu uma mordaça entre os dentes para que não saíssem os gemidos de gata histérica que já rasgavam suas entranhas.

Amaram-se tórridamente, como nunca antes haviam se amado.

Ela ficou grávida.

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