Não me gabo de escolher o tratado de
amor do velho García Márquez para propor a você que aqui chegou uma
reflexão sobre nosso senso nato de resistência, pois tenho
pensado (como muitos também
tem)
sobre o que significa resistir nesse
tempo particular da
história, e o quão
difícil é não sucumbir à raiva infecciosa e ao vício em
indignação que existe e persiste em nosso mundo hoje.
Na
polarização da moda, os #FicaEmCasa tentam demonstrar, com
sólidos argumentos, para a turma do #BrasilNãoPodeParar os
riscos de afrouxar o isolamento social; essa guerra fria esquenta a
cada dia. O resultado são interlocutores defendendo trincheiras e,
velozes, tornam-se inimigos furiosos.
Sabemos
que o coração da resistência pacífica não é retribuir o ódio
com o ódio, mas amar nossos inimigos como Jesus nos disse para
fazer. O fato de saber disso não significa que sempre vamos
conseguir fazer. Mas acabei achando essa passagem de Thomas Merton
que realmente reformula o problema para mim:
“Simplesmente resistir ao mal com o mal, odiando aqueles que nos odeiam e procurando destruí-los, na verdade não há resistência alguma. É a colaboração ativa e intencional no mal que leva o cristão a entrar em contato direto e íntimo com a mesma fonte do mal e do ódio que inspira os atos de seu inimigo. Na prática, leva à negação de Cristo e ao serviço do ódio, e não do amor.”
Passion
for Peace: Reflections on War and Nonviolence
Uma
“colaboração ativa e
proposital no mal”. A ideia
de que retornar o ódio com o
ódio é colaborar com o mal leva a incapacidade de amar meu inimigo
a um nível totalmente novo. Eu consigo
lidar com o
fato de ser um cristão
imperfeito (tenho muita
prática nisso),
mas um colaborador do mal? Fiquei
incomodado com esse paradoxo.
Confortável
seria acreditar não ser possível amar o próximo, porque é
justamente o próximo que não se pode amar, só aos distantes. Se
assim for, estamos na estação perfeita para esbanjar amor em tempo
de distanciamento.